terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

"Sou da geração sem remuneração"

Sei que nos últimos dias esta música correu o Facebook. É a nova canção dos Deolinda (banda do meu coração) que traz de volta os temas tabu da nossa sociedade.

A mim diz-me muito. Muito mesmo. Passei efectivamente por isto e toda a letra podia ter sido dita por mim.

"Parva eu não sou", porque já disse "não" a isto e agora sei que estou num sítio onde me dão valor. Mas não me esqueço do quão desgratificante e mísero sentimos que é o nosso trabalho quando não é remunerado. É como se não tivéssemos valor. Como se estar ali ou não estar fosse igual. Somos apenas mais um.
Sei que deixei memórias positivas pelo menos num dos sítios por onde passei (e onde, mesmo gratuitamente, era um prazer estar). Mas de resto, nos outros sítios, fui apenas mais uma estagiária.

Obrigada. Obrigada aos Deolinda por denunciarem a vergonha dos estágios eternamente não remunerados e por conseguirem erguer uma plateia com um tema destes.



Deolinda - Parva que sou

«Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração "casinha dos pais",
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou!
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar...
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração "vou queixar-me pra quê?"
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!

Sou da geração "eu já não posso mais!"
que esta situação dura há tempo demais!
E parva não sou!!

E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar».

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